segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Rock é Subversão

Ana is a punk rocker / Ana is a punk rocker / Ana is a punk rocker / Ana is a punk rocker yeah!

Joey Ramone / Pedro




Pode-se falar de conflito geracional antes e depois dos anos 1960, mas não dá para passar indiscriminadamente pela geração que deu substância a esse conflito. É até difícil falar de “geração” antes da década de 1960, se entendermos que a palavra nos diz algo mais do que um grupo de pessoas que nasceram cronologicamente próximas. O conflito ideológico e comportamental daqueles jovens com seus pais, com seus professores e com seus políticos foi o que nos abriu os olhos para a possibilidade de que gerações possam de fato ser incompatíveis e incomunicáveis, e de que essa tensão possa ser explosiva. Aquela convicção tão veemente numa idéia de mundo, com uma certeza tão clara na radicalidade e na urgência da mudança, não conseguia conceber a necessidade dos hábitos, o peso do passado, o assim-porque-sempre-foi, a perversidade do status quo. Era o momento do ímpeto, de fazer a hora – e não esperar acontecer.
Por mais que os Monkees já houvessem dito que “we’re the young generation and we have something to say” (nós somos a nova geração e temos algo a dizer), não foi nessa fonte que os anos 60 beberam sua rebeldia. Até porque os Monkees não tinham muito mais a dizer. Um pouco mais de sentido fazia quando Roger Daltrey, cantando “My Generation”, berrava “why don’t you all fade away? and stop trying to dig what we all say” (porque vocês todos não desaparecem? e parem de tentar entender o que dizemos), arrebentando os microfones, amplificadores, instrumentos e tímpanos. E Keith Moon – além de quebrar a bateria a cada performance do Who – acabou por levar a cabo o espírito de auto-destruição daqueles berros e se matou engasgado com seu vômito. Ora, a geração do Who, segundo eles, “preferia morrer a ficar velho”: uma máxima para todos aqueles que não confiam em ninguém com mais de trinta anos.
Mas o conflito geracional não é só estardalhaço, longe disso. Musicalmente, seu ápice foi “she’s leaving home” dos Beatles, lançado em Junho de 1967, no Sgt. Pepper’s. Por quê? Pois ali está toda a complexidade de uma geração incompreendida. Ou melhor, compreendida somente por si própria. Não com o espalhafato da auto-afirmação, mas com o doce drama da incomunicabilidade entre pais e filhos. Com a ruptura traumática de uma filha triste, que se liberta não só do ambiente repressor de uma família tradicional, mas também de toda a cultura machista, materialista, religiosa, alienada, etnocêntrica e conservadora dos “anos de ouro” do capitalismo. Não havia possibilidade de diálogo. Os pais – que viveram os difíceis anos 1930, a guerra e que tinham “struggled hard all our lives to get by” – não falavam a mesma língua da menina – para quem “fun is the only thing money can’t buy”. E ela abandona seus pais, com convicção mas não sem alguma melancolia. É uma decisão trágica e traumática, mas absolutamente incontornável: ela opta por uma vida livre, por fugir com um homem para viver o que o mundo – e não seu pai – pode lhe permitir. Curiosamente, Hendrix – em “waiting until tomorrow”, do mesmo ano – nos colocaria do outro lado da história: sendo o homem que planeja a fuga junto com sua amada, acabaríamos por tomar um tiro na testa.
Um tanto profeticamente, os Stones advertiriam no final da década (1969) que “you can’t always get what you want” (você não pode sempre ter o que quer). Um truísmo um pouco bobo, se não estivesse voltado, como estava, para uma geração onipotente, ilimitada, insaciável. Essa geração para a qual “ceder um pouco já é capitular muito”, como diziam os muros parisienses em 1968. Os Stones sabiam, afinal, que não é só de voluntarismo que se fazem as coisas, não é só de mau-humor que se fazem vanguardas, não é só de barricadas que se fazem revoluções, não só é de guitarristas que se fazem bandas de rock, não é só de sonhos que se faz a realidade e não é só de uma geração que se faz a História. Todo ímpeto deixa sua marca, mas nunca dura para sempre. Nenhum jovem envelhece jovem. Nenhuma ereção é interminável.
Conforme as idéias vão decantando, temos que ouvir o sarcasmo ácido do realismo. Só nos anos 1970, então, que Belchior irá cantar para àquela juventude que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, isto é, que o tempo fora mais cruel que os gendarmes.

1 comentário:

Unknown disse...

eu tava assitindo mutantes no show em londres. 2006. e me deparo com isso. vim aqui ler. e penso: pedro pedro pedro, és tu quem quero ouvir!
(e ler, pois).

bisous

anajupos